quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O escritor e mestre Rubem Alves disse que
"Ensinar é um exercício de Imortalidade".
Deve ser por isso que lembrarei,
enquanto eu viver, de uma Mestra que transitou
por meu aprendizado, de quem lembro com muita frequência quando busco uma referência de dedicação e carinho à arte de ensinar. Trata-se de "Dona Manoelita", a primeira professora de quem sentia o perfume de rosas, enquanto ela segurava a minha mão ao rabiscar as primeiras letras. Ela não era apenas a professora que cheirava a rosas... Era um ser humano de primeira linha,

pois tinha uma capacidade única de se comover com o que estava além da sala de aula, preocupava-se com seus alunos menos favorecidos pela sorte, (como eu).Trazia consigo sanduíches de pão com queijo que distribuía para os que não tinham um lanche, a exemplo dos mais abastados. Eu mesma fui aquecida por um dos casacos que ela tricotara durante o ano para que seus alunos não sofressem nos dias mais frios. Lembro-me dela me chamando pelo nome, enquanto os outros iam para o recreio:  "Cirlei, fique uns minutos aqui comigo" - então, fora até um pequeno armário no fundo da sala e de lá tirara um casaquinho de tricô, azul claro, com botões madre-pérola e dissera-me: "Guardei este para você, pois é da cor dos seus olhos." Na inocência dos meus sete anos, fiquei vermelha feito um tomate e deixei que me ajudasse a vesti-lo, abotoando-o... Que sensação maravilhosa ir para o recreio ostentando aquela preciosidade macia, cheirando a rosas!  Aquele casaco me acompanhou por muito tempo e mamãe sempre que surgia a oportunidade mostrava-se grata à professora que se preocupou com a escassez de roupas de sua filha, enviando-lhe alfaces e cenouras que plantava no pequeno quintal.
Dona Manoelita já partiu dessa existência, mas não sem que, um dia, eu pudesse procurá-la, levar-lhe flores, chocolates e um casaco na cor azul-clara, para aquecer o corpo daquela que um dia me agasalhou.
Encontrei uma senhorinha risonha, com dificuldade para se levantar, que não fazia a menor ideia de quem eu era e muito menos se lembrava de ter me tricotado um casaquinho. Sorrindo disse-me: "Eu não lembro disso, mas se você diz, então deve ser verdade...! Eu a abracei forte e voltei a sentir o mesmo perfume da minha infância, 
que já não era mais de rosas, mas de um jardim de gratidão!
E claro, chorei! ... sem que ela soubesse o motivo, mas eu estava diante de alguém que não apenas me ensinara as letras, mas ensinou-me o olhar que devemos ter ao sofrimento alheio! 
Hoje, meu perfume também é de rosas, o que me traz com frequência à lembrança Dona Manoelita, uma Mestra na arte da humanidade!