Enquanto os colchões de palha e as cobertas de lã de carneiro aqueciam ao sol, no fogão à lenha ferviam-se os panelões de água para o banho de bacia. Na agitação da manhã de inverno eram realizados trabalhos para minimizar o frio e o vento da noite que entrava pelas frestas do velho casebre.
Uma época onde absolutamente tudo o que se comia, bebia
e usava era "feito em casa". Os dias eram longos e todas as tarefas eram realizadas pelos membros da família. Do menor ao maior, todos tinham suas atribuições e de sua execução dependia o maior ou menor conforto de cada um. Legumes, frutas, leite, queijo, carne de frango e porco... quase tudo se produzia e muito poucas coisas, além de trigo e arroz, eram comprados .
Um calçado novo era o presente de Natal e tinha que "aguentar" o ano todo. Isso tudo estava muito longe de considerarmos um sofrimento e sequer nos sentíamos "pobres". Era a forma como a grande maioria vivia e achávamos natural auxiliarmos e colaboramos para mantermos tudo limpinho e funcionando.
Era o tempo da escassez de luxos, mas da abundância de ensinamentos e, enquanto tratávamos de sobreviver, aprendíamos as lições de respeito, honestidade, organização, humildade...
Havia, sim, o desejo de prosperar, adquirir cultura e ter uma vida um pouco mais confortável... o que exigia um esforço redobrado
e uma extrema força de vontade para conquistá-las.
Tudo passa! E hoje são lembranças e orgulho do exemplo da coragem e da determinação de meus pais que enfrentaram o pós guerra numa terra nova e que recomeçaram, literalmente do zero,
no entanto venceram e criaram filhos idôneos e felizes.